É no território que a jovem Analu se reconhece enquanto agente de transformação. Enquanto moradora da comunidade do Bode, no bairro do Pina, zona sul do Recife, ela reflete sobre os anseios sociais que atravessam a sua trajetória.
Hoje, com 14 anos, Analu está no 1º ano do Ensino Médio, integrando o curso técnico de Farmácia. Mas é lá atrás que a história começa.
Aos nove anos, ela se mudou para o Recife, na companhia da família. Eles estavam vindo de Praia Grande, litoral de São Paulo. Diante da distância do lugar que tinha lembranças de sua infância, a jovem não acreditava que poderia fincar raízes em outro estado. “Eu nunca tinha pensado em Pernambuco como um lugar para morar. Mas comecei a fazer parte dos projetos da comunidade e gostei muito”, conta.
Após ingressar nessas oportunidades, Analu conheceu o Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec). Em uma turma do curso oferecido pela instituição, através do projeto Teia de Proteção, o seu sentimento de justiça social foi aflorado. “Eu fui pra muitos lugares e aprendi muito com o Cendhec. A gente estudou sobre o ser político, o Estatuto da Criança e do Adolecente e as origens das violências. É de extrema importância o que ele faz, porque leva informações para crianças e adolescentes de comunidades vulneráveis, para que possam saber como agir em situações de violência”, completa a estudante.
TERRITÓRIO E MEMÓRIA
Visado pelo constante aumento da especulação imobiliária, a história do bairro de Analu corre o risco de ser apagada. As desapropriações em vista da chamada “urbanização da Bacia do Pina”, por meio do projeto Novo Rio Pina, anulam vidas e afeições.
Os investimentos ultrapassam R$ 40 milhões e preveem a retirada de mais de 950 moradias, o que corresponde a mais de 600 famílias que deixarão seus lares na comunidade do Bode.
À vista disso, é essencial que haja a integração e intensificação dos papéis embrionários dos jovens para alcançarmos a sonhada transformação.
FORTALECER PARA MUDAR
“Eu fui convidada para falar e dar a minha opinião sobre o que eu penso. E as pessoas se importavam, de verdade, com o que eu achava.” (Analu Passos)
A equipe multidisciplinar do Cendhec atua abordando especialmente temas como violências sexual, doméstica, psicológica; exploração de crianças e adolescentes; e formas de autoproteção. Além de incentivar e encorajar a apropriação histórica, social e emocional dos territórios em que vivem. São essas temáticas que diferenciam o discurso de Analu, principalmente quando ela conversa com outros colegas da sala de aula. “Eles me veem como uma pessoa que pode fazer eles entenderem alguns assuntos, como uma ponte. É bem interessante. A partir do Cendhec, eu sei, agora, explicar as minhas opiniões, argumentar e defendê-las”, relata.
De tão engajada, Analu passou de estudante para monitora, facilitando a aprendizagem para o público atendido. “Eu levava minhas ideias e meu ponto de vista de como eu achava que o assunto chegava melhor nas crianças e adolescentes. Eu era como uma linha sutil”, explica.
Nesse protagonismo latente, Analu Passos participou de ato em alusão ao 18 de Maio, data que marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, e reverberou o sentimento de todos os presentes. Confira o vídeo aqui.
Luanna Cruz, psicóloga do Cendhec, esteve em contato direto com Analu, e relembra com carinho da parceria. “Sempre muito engajada, desde a participação nas oficinas. Durante a monitoria, investimos no desenvolvimento de suas aptidões, contribuindo para uma apropriação maior a respeito dos direitos de crianças e adolescentes, na teoria e na prática. A sua participação foi muito importante na construção do curso, a partir das suas vivências e lugar de fala que fortalecem novas reflexões e espaços de ocupação”, comenta.
“É muito libertador sentir que estou cultivando uma coisa boa. Nada sobre nós, sem nós”.
Analu Passos
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