Pobreza multidimensional: fome afeta educação de crianças e adolescentes
Foto: Alcione Ferreira/Cendhec
Imagine viver no lugar em que 73% das crianças estão em estado de pobreza? Este é o cenário atual de Pernambuco.
Na última semana, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou o estudo “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil” que mostra panoramas importantes sobre as crianças e adolescentes do país, e trouxe os dados alarmantes em nosso estado.
Mas não são apenas números ou estatísticas. São vidas reféns do descaso, da falta de acesso à moradia, à água potável, ao saneamento e coleta de lixo, à saúde, à educação e ao transporte. Afastadas de seus direitos humanos mais básicos, meninas e meninos se veem sem acesso à infância.
Este é o retrato de uma sociedade que marginaliza e invisibiliza os sujeitos de direitos. “A fome é um fenômeno que, embora todos dentro de uma sociedade saibam de sua existência, ainda é negado. Quem não a sente, não a vê. Ela acontece no silêncio”, externa Marilise Fróes, educadora social do Cendhec.
O resultado em Pernambuco, trazido pela pesquisa, é um número alto, mesmo que esteja em queda. Em 2019, 77% das crianças foram atingidas pela pobreza em nosso território. Ainda há muito a ser feito, como expõe a educadora social. “Desde o período de pós-pandemia da Covid-19, tivemos o agravante de várias questões sociais. Crianças e adolescentes tiveram suas rotinas alteradas, principalmente no que tange a educação e a socialização. A realidade da fome, ao contrário da pandemia, não recuou. Para mudar esse cenário é preciso um movimento coletivo para construir e alcançar uma alternativa viável e sustentável para sanar a pobreza que se instaurou”, declara.
EDUCAÇÃO CORRE RISCOS NO BRASIL
Dentre os importantes indicadores do relatório da Unicef, observamos que a educação foi duramente estremecida. No Brasil, entre os anos de 2019 e 2022, a proporção de crianças de 7 anos de idade que não sabem ler e escrever dobrou de 20% para 40%. Este aumento é acentuado entre as crianças negras e as que foram afetadas pela pandemia durante o período de alfabetização.
As diversas desigualdades às quais as infâncias são submetidas refletem no desenvolvimento escolar e cognitivo, uma vez que esses meninos e meninas têm dificuldade na aprendizagem. A fome não perdoa e expande a evasão escolar. Sem saída, muitas e muitos buscam alternativas de trabalho para conseguir se alimentar.
De acordo com o relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil”, da rede PENSAN, em 2020, quase 43% dos estudantes brasileiros enfrentaram insegurança alimentar em algum período. O número influencia o abandono escolar, que foi estipulado em 47% das famílias.
“A fome tira a concentração, desequilibra o emocional e traduz a realidade da casa destas crianças e adolescentes, que acarreta em outras dificuldades e conflitos, inerentes à sobrevivência, que também colocam a educação em segundo plano”, comenta Marilise.
No Portal Afrontosas, plataforma do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec), que fala sobre gênero e educação, estão disponíveis outros estudos sobre o assunto. Clique aqui para conferir.
O alerta, neste 17 de outubro, considerado o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, revela a urgência em proposição de políticas públicas para crianças e adolescentes que possam assistir, com dignidade, a todas e todos.
“Precisamos seguir conscientes dos reflexos da fome e da pobreza sobre nossas crianças e adolescentes para entender seus comportamentos e construir caminhos que ajudem elas e eles a seguirem em frente. É preciso que os órgãos competentes escutem a sociedade e trabalhem para a melhoria da condição de vida da população, de forma geral, e que tenham um olhar especial para quem precisa ter suas especificidades de desenvolvimento atendidas”, finaliza Marilise Fróes.
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