Doe x
Faça sua doação para o Cendhec

Feminicídio em Icauã, no Recife, reforça que vidas de mulheres brasileiras apenas são discutidas quando já lhes foram tomadas

Mãe grávida e quatro filhos morreram em incêndio provocado pelo próprio parceiro

Texto: Camila Deschamps

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O fim deste mês de novembro foi marcado por mais um caso de violência contra a mulher no Recife. A Comunidade Icauã, ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem Teto (MUST) situada no bairro da Iputinga, Zona Oeste da capital pernambucana, foi vítima de um incêndio criminoso realizado pelo marido da vítima, no último sábado (29), que ceifou a vida de Isabele Macedo, de 40 anos, grávida de dois meses, e de seus quatro filhos.

No dia do ocorrido, o marido de Isabele, Aguinaldo José Alves, trancou a família dentro da própria casa e ateou fogo no local. Segundo a vizinhança, o homem costumava mudar seu comportamento ao consumir bebidas alcoólicas. Os corpos das vítimas, Aline, de 7 anos, Adriel, de 4, Agnaldo, de 3, e Ariel, de 1 ano, ficaram carbonizados após o incêndio.

O criminoso foi preso em flagrante e conduzido ao Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR). No entanto, é evidente que o cumprimento de medidas restritivas não chega perto de ser suficiente para conter os numerosos casos de feminicídio registrados a cada dia no Brasil. Apenas no primeiro semestre de 2025, 718 feminicídios foram contabilizados no país, segundo levantamento realizado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência, tocado pelo Senado Federal.

A crueldade disseminada gratuitamente às mulheres não pode ser normalizada, não pode ser punida apenas a cada novo caso que aparece. É imprescindível repensar a estrutura social, a raiz das inúmeras violências sofridas por mulheres no Brasil e no mundo, em especial, às vítimas que moram em territórios vulnerabilizados, onde as políticas, muitas vezes, não chegam.

A mãe e os filhos mortos pelo parceiro e genitor foram sepultados nesta segunda-feira (1º), no Cemitério da Várzea, também no Recife. O crime desestruturou os moradores da ocupação, que esteve presente no cortejo fúnebre e se despediu das vítimas em meio a sentimentos de descontentamento, incredulidade e injustiça. O covarde incêndio destruiu, ainda, 20 casas da Comunidade.

Campanha Nacional contra a violência à mulher

O cenário de feminicídio que ocupa o Recife desde o último dia 29 acontece em meio aos “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Meninas e Mulheres”, campanha anual demarcada entre 20 de novembro e 10 de dezembro. Entristece e indigna a sociedade civil organizada perceber que as mulheres, sobretudo as mais vulnerabilizadas, são esquecidas pelo sistema e suas vidas apenas são discutidas quando já lhes foram tomadas.

Como ajudar

As famílias que perderam suas casas em decorrência do incêndio em Icauã precisam recomeçar e carecem de muitos itens perdidos. É possível doar aos moradores mantimentos como roupas, alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza, água mineral por meio de algumas organizações. 

O Gris Solidário (@gris.solidario ) está recebendo doações para montar kits e entregar às vítimas, é possível destinar itens ou contribuir via PIX: grisespacosolidario@gmail.com. Existem pontos de coleta na Várzea, em Boa Viagem e no Ipsep. Em caso de dúvidas, é possível entrar em contato pelo número 81 99766-4791.

O Centro da Mulher Camilla Cardoso (Cemucc, @centrodamulher_camillacardoso ) também recebe doações em sua sede, na Avenida Malacó, 136, Alto Santa Isabel, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.

AJUDE-NOS

Faça parte deste projeto doando

Pular para o conteúdo