“Essa é uma luta central e pela humanidade, não é retórica.”
Cúpula dos Povos Frente ao G20 reúne mais de 700 pessoas no Rio de Janeiro, para demarcar importância de pautar os Direitos Humanos a partir das vozes da sociedade civil. Cendhec esteve presente durante todos os dias do evento.
Fotos: Rodrigo Matos Texto: Alcione Ferreira
Em sua 9° edição e com presença marcante de coletivos, centrais sindicais e organizações da sociedade civil, a Cúpula dos Povos Frente ao G20 demarcou durante os dias 13, 14 e 16 de novembro a força e a importância das vozes que estão à margem das decisões dos conglomerados detentores da economia mundial. O evento aconteceu em paralelo ao G20, outro encontro que reúne vários líderes mundiais, cujo anfitrião esse ano foi o Brasil. O principal papel da Cúpula dos Povos é apontar as contradições nas pautas dos países que integram o G20 e apresentar soluções discutidas e respaldadas pela sociedade civil.
Para Ana Cláudia Bezerra, coordenadora financeira do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social “A participação do Cendhec na cúpula dos povos demarca o posicionamento político da instituição frente à política econômica mundial do grande capital. É uma resposta crítica e construtiva às discussões do G20 rumo a COP 30 neste espaço que busca dar voz às comunidades e movimentos sociais, especialmente os mais marginalizados.“
Entendendo os principais objetivos e discussões que emergiram durante o encontro, que contou com países da Amárica Latina e Caribe, além da África do Sul, Katia Pintor, coordenadora Adjunta e do Programa Direitos de Crianças e Adolescentes do Cendhec, destacou as ações que a instituição vem adotando, de acordo com as temáticas que foram debatidas na Cúpula dos Povos 2024 : “O Cendhec atua por justiça climática e direitos humanos, no enfrentamento às violências de gênero e sexual, atua pelo direito de crianças, adolescentes, à cidade e territórios e comunidades tradicionais.”
A escritora e jornalista palestino-brasileira Soraya Mislesh falou sobre a resistência histórica do povo palestino frente ao projeto colonialista israenlense, iniciado em 1948 e que na época levou à expulsão ou à fuga de 800 mil pessoas, num processo conhecido como Nakba (catástrofe).
“Quando dizemos que essa é uma luta central e pela humanidade, não é retórica. É porque o que ocorre na Palestina é um experimento, é um laboratório. Israel faz dos palestinos cobaias humanas, onde testa tecnologias para vender ao mundo, para extermínio do povo pobre, negro, indígena, como acontece no Rio de Janeiro. O sangue derramado lá sustenta o sangue derramado aqui”, demarcou Mislesh, que ainda cobrou ao govern brasileiro o rompimento com todas as relações com Israel, incluindo as de ordem econômica e diplomática, apesar do embaixador brasileiro Mauro Viana ter afirmado no final de outubro, em entrevista a CNN Brasil que não seria interessante o país romper relações com Israel, segundo ele essa atitude “não levaria a nada”.
Pautas da Sociedade Civil
Como em edições anteriores, a Cúpula dos Povos Frente ao G20 apresentou mesas temáticas divididas em plenárias. Durante os debates sobre “Justiça Socioambiental e Climática”, os participantes enfatizaram a crise climática como um resultado do sistema capitalista e a necessidade de fazer a discussão chegar em diferentes níveis sociais.
Manoel Moraes, coordenador geral do Cendhec , destacou a importância de se estabelecer uma agenda consciente e comprometida com e para o futuro da humanidade mas essencialmente do meio ambiente, reconhecendo o conceito de direitos da natureza. “O capitalismo é uma fase da economia. Nós não somos reféns do capitalismo porque ele vai passar na História, aliás, para a natureza, nós somos passageiros”, e completou: “Queria demarcar aqui a ideia de que nossa bandeira, aquela que deveria nos unificar é avançar nos Direitos da Natureza”.
Do Instituto Terramar, Soraya Tupinambá abordou as pretensas saídas para a crise climática que reiteram violações de direitos, que se apresentam como mais um “mecanismo de colocar a vida dos territórios na máquina de moer do capital”. Ela reforçou que a crise não está concentrada na questão do carbono. “Falamos que transição energética é mais uma transação energética, que manifesta o interesse e a propaganda verde para se apropriar das terras brasileiras”, disse.
Na plenária “Lutas antipatriarcais e antirracistas no enfrentamento às desigualdades”, João Batista Carvalho, coordenador estadual do movimento negro unificado do estado do Rio de Janeiro, destacou o embate do povo negro também é anticapitalista “porque esse sistema é o responsável pela escravidão. Nosso ato aqui é para lutar contra os senhores da guerra que estão reunidos aqui no Rio de Janeiro. Dizer pra eles que não tem acordo, não tem participação social, junto com os responsáveis pela nossa desgraça”.
Na plenária “A luta anticapitalista e a governança mundial”, os participantes criticaram sobretudo as políticas de austeridade, a retirada de direitos trabalhistas e o aumento das privatizações, que se aprofundaram mundialmente sobretudo com a crise financeira de 2008, num processo, nos últimos anos, que caminha com a ascensão da extrema direita.
Da Marcha Mundial de Mulheres, Ana Priscila Alves pontuou que é justamente a população feminina a mais afetada por esse recrudescimento: “O trabalho das mulheres é o mecanismo para ajustar as crises. Quando o Estado para de investir em saúde, quem cuida? Quando para de ter escola, de ter políticas para os idosos, quem é que cuida? Há uma percepção de piora da vida porque trabalhamos cada vez mais, trabalho pago e não pago. Para nós, a alternativa precisa ser a partir da economia feminista, que coloque a vida no centro e não o lucro.”
Depois das plenárias, o público retornou ao auditório da ABI para a partilha dos debates e encaminhamentos. Ao final, houve uma solenidade de transmissão com a entrega da jangada símbolo da Cúpula dos Povos frente ao G20 a representantes de organizações, como a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), para a “Cúpula dos Povos Rumo à COP 30”, que se realiza em Belém (PA), em 2025.
Palestina Livre
No sábado, o evento teve culminância com a “Marcha dos Povos Palestina Livre do Rio ao Mar Fora Imperialismo”. Mesmo sob forte e constante chuva a militância coletiva não arredou o pé, demonstrando força e coesão política diante da importância da ação. luis Emmanuel, coordenador administrativo e do Programa Direito à Cidade, do Cendhec, deu o recado: “Muita chuva, mas também muita força, muita disposição para trabalhar essa resistência contra o G20, contra toda essa estrutura que tem massacrado, Principalmente o povo da Palestina, que hoje é o símbolo desse massacre e dessa opressão. Estamos aqui na luta por direitos humanos e vem aqui essa galera todinha reunida mesmo debaixo de chuva. Isso fortalece a nossa luta, fortalece o nosso trabalho todos os dias.”
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