Recife registra o janeiro mais violento dos últimos seis anos. Jovens e negros são as principais vítimas.
O Instituto Fogo Cruzado, relatório anual da violência armada nas regiões metropolitanas de Recife, Rio de Janeiro e Salvador, aponta piora significativa no número de tiroteios, baleados e vítimas por bala perdida, em 2023. Em Recife, neste ano, a análise já identifica um agravante: o janeiro de 2024 foi o mais violento dos últimos seis anos, com um crescimento de 22% dos registros em relação ao ano passado, de 27% no número de mortos e de 43% na quantidade de feridos. A letalidade dos casos é um dos alertas e o quadro se acentua quando olhamos para os adolescentes – dentre eles, dos 11 baleados, 9 foram vítimas fatais.
Segundo o Fogo Cruzado, no último final de semana, entre os dias 16 e 18 deste mês, foram registrados 20 tiroteios e 27 baleados, na Região Metropolitana do Recife.
Na última segunda-feira (19), os jornais do Recife mais uma vez noticiaram a morte de uma adolescente vítima de bala perdida. Vitória Maísa tinha 13 anos e foi baleada, no último sábado (17), durante um confronto entre a Polícia Militar (PM) e criminosos na comunidade Vila São Miguel, bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife. A adolescente foi socorrida, mas infelizmente não resistiu aos ferimentos.
A recorrência de casos de violência armada, como o que vitimou Vitória, não é novidade para os moradores da Região Metropolitana do Recife, uma vez que o aumento da insegurança é sentido e denunciado diariamente. De tão presente, o medo se confunde com o caos, cotidianos na cidade.
A curva crescente registrada no mapa da violência expõe inseguranças e desigualdades latentes na Região Metropolitana do Recife. A depender do contexto que estão inseridos, na capital que tantas vezes esteve no ranking da desigualdade no país, o agravante é sentido mais por uns – população negra e periférica – do que por outros – população branca e classe média alta. Segundo o relatório do Fogo Cruzado, entre as 147 pessoas mortas na região metropolitana em janeiro deste ano, 93 eram negras e 8 eram brancas.
Traduzindo os números: em Recife, não é seguro ser adolescente e negro, e o quadro se agrava ao passo que a classe social diminui. O cenário é de emergência, mas o estado segue ineficiente na busca por mudanças. Os dados escancaram feridas profundas de uma cadeia de falhas do governo na proteção de crianças, adolescentes e jovens. Negligências no acesso à moradia, alimentação e saúde, também acompanham a falta de um plano de segurança eficaz.
Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, avalia: “Apesar de um plano de segurança ter sido anunciado, pouco sabemos das estratégias efetivas para o alcance da meta definida para redução das taxas de violência. O resultado ao terminar o ano passado foi que nunca houve tantos tiroteios provocados por ações e operações policiais”.
O Instituto recebe e disponibiliza informações de crimes de violência armada via aplicativo de celular e desenvolve um levantamento de dados contabilizando ocorrências de tiroteios e registrando o número de pessoas baleadas e vítimas fatais, se existentes. Com o cruzamento de informações, a iniciativa também busca traçar o perfil das vítimas, no entanto, encontra barreiras na ausência ou imprecisão de informações. Como ocorreu com o relatório de 2023, em que pelo menos 49 dos 57 feridos não tiveram a cor e/ou raça revelados.
Acesse: https://www.fogocruzado.org.br/
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