Enquanto houver RACISMO, não haverá DEMOCRACIA
Nós população negra organizada, mulheres negras, pessoas faveladas, periféricas, LGBTQIA+, quilombolas, religiões de matriz africana e pretos e pretas com distintas confissões de fé, povos do campo, das águas e da floresta, trabalhadores explorados, informais e desempregados, em Coalizão Negra por Direitos, vimos a público exigir a erradicação do Racismo como prática genocida contra a população negra.
O Brasil é um país em dívida com a população negra brasileira – dívidas históricas e atuais. Portanto qualquer projeto ou articulação por democracia no país exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo. Convocamos os setores democráticos da sociedade brasileira, as instituições e pessoas que hoje demonstram comoção com as mazelas do racismo e se afirmam antirracistas, sejam coerentes! Pratiquem o que discursam! Unam-se à nós neste manifesto, às nossas iniciativas históricas e permanentes de resistências e às propostas que defendemos como forma de construir democracia, organizada em nosso no programa: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/2020/01/27/coalizao-negra-por-direitos-divulga-carta-programa-e-mensagem-em-video-ao-povo-brasileiro/
Essa convocação é ainda mais urgente em meio à pandemia do Covid-19, quando sabemos que a população negra é o segmento que mais adoece e morre, amplia as filas de desempregados, e sente na pele o desmantelamento das políticas públicas sociais. Ou seja, em meio à pandemia de Covid-19 o debate racial não pode mais ser ignorado.
Neste momento em que diferentes setores se unem em defesa da democracia, contra o fascismo, o autoritarismo e pelo fim do governo Bolsonaro, é de suma importância considerar o racismo como assunto central.
“Estamos vindo a público para denunciar as péssimas condições de vida da comunidade negra.” Este trecho, retirado do manifesto de fundação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, de julho de 1978, é prova de que jamais fomos ouvidos e de que sempre estivemos por nossa própria conta. Esta é uma luta que não começa aqui, mas que se materializou no pensamento e ação de homens e mulheres que em todos os momentos históricos em que a brutalidade foi imposta ao povo negro, levantaram suas vozes e disseram: NÃO!
Não há democracia, cidadania e justiça social sem compromisso público de reconhecimento do movimento negro como sujeito político que congrega a defesa da cidadania negra no país. Não há democracia sem enfrentar o racismo, a violência policial e o sistema judiciário que encarcera desproporcionalmente a população negra. Não há cidadania sem garantir a redistribuição de renda, trabalho, saúde, terra, moradia, educação, cultura, mobilidade, lazer e participação da população negra em espaços decisórios de poder. Não há democracia sem garantias constitucionais de titulação dos territórios quilombolas e o respeito ao modo de vida das comunidades tradicionais, sem contaminação e degradação dos recursos naturais necessários para a reprodução física e cultural. Não há democracia sem o respeito e liberdade religiosa. Não há justiça social sem que as necessidades e os interesses de 55,7% da população brasileira sejam plenamente atendidas.
O racismo deve ser rechaçado em todo mundo. O brutal assassinato de George Floyd, demonstra isso, com as revoltas, manifestações e insurreições nas ruas e a exigência de justiça racial. No Brasil, nos solidarizamos com essa luta e com estes protestos e reivindicamos justiça para todos os nossos jovens e população negra. E, entre muitos que não podemos esquecer, João Pedro presente!
Em nosso passado formamos quilombos, forjamos revoltas, lutamos por liberdade, construímos a cultura e a história deste país. Hoje lutamos por uma verdadeira democracia, exercício de poder da maioria, e conclamamos aqueles e aquelas que se indignam com as injustiças de nosso país.
Porque a prática é o critério da verdade!
Assinam: COALIZÃO NEGRA POR DIREITOS
(Articulação de 150 entidades, coletivos e movimentos negros do Brasil – Aqui as entidades: https://bit.ly/3hdSE8O) Coletivo Legítima Defesa
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